quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A matemática é simples; as variáveis, não.

Nós nunca estamos satisfeitos, como monstros devoradores de emoções; quando mais exercitamos a fome, mais fome surge do nada.

Uma senhora visita a casa de sua comadre todo fim de tarde. E, todas as tardes, é servido um café delicioso, o café mais bem feito de toda a vizinhança. Mas um dia o delicioso vira costume, o costume vira comum, o comum vira tedioso e o tédio, amigos, é ruim.

Então a senhora joga verde para sua comadre e sugere trocar o cafezinho pelo chá, que não é assim tão gostoso quanto o antigo café, mas dá pro gasto. É novo, diferente, relativamente agradável...

Mas um dia bate uma saudaaade daquela café gostoso da comadre.

O que devo fazer, então?, pergunta a comadre. A senhora responde, sirva os dois, minha amiga. Pensa internamente, a nossa querida senhora, sou sua amiga, lhe faço companhia... Ela tem a obrigação de me servir os dois, chá e café!

Tem mesmo? Qual será o próximo passo? Coca cola com rum? Vinho tinto ou licor de menta?

Precisamos de afeto, de compreensão, de calor, de cuidado. Mas o processo mental de avaliação é invertido: y = a+b+c, sendo y meu amigo, meu pai, minha mãe, meu marido, minha esposa, meu namorado ou minha namorada, que implica em uma quantidade 'a’ de carinho que deve ser dada a mim, uma quantidade ‘b’ de compreensão que deve ser cedida a mim, uma quantidade ‘c’ de dedicação que deve ser dirigida a mim, etc.

Não me leve a mal. E eu não digo aqui que as pessoas são incapazes de doar a si mesmas. Mas, quando todo mundo à nossa volta é visto como uma função do nosso ego, do nosso eu, todos deixamos de ser realmente vistos como pessoas. E todo o pequeno universo que é um ser humano é visto apenas em uma face, a face que nos interessa. Ele não é uma pessoa, com desejos, aspirações, dificuldades, preconceitos, virtudes, passado, futuro, ele é meu amigo que deveria entender meu ponto de vista. Ela não é uma pessoa, é a minha mãe que deveria ser compreensiva comigo acima de tudo. Ele não é alguém único e inacreditavelmente vivo, é meu marido que deveria que dar tal quantidade de atenção, etc. É como ver apenas uma das faces de um cubo, ou melhor, de um sólido com milhares de faces.

A matemática é simples: Considerando esses dados, a próxima dedução conduz-nos à catástrofe. 1) Se ‘x’ deseja uma quantidade ‘a’ e; 2) Se ‘y’ também deseja uma quantidade ‘a’... Silogisticamente, 3) Os dois vão continuar desejando e nada feito.

Volta e meia idealizamos como gostaríamos que nosso chefe nos tratasse, como gostaríamos que nossos pais nos amassem, como gostaríamos que nossos filhos se comportassem... Idealiza-se tanto e tão frequentemente que se esquece dos limites da realidade concreta. Os limites do que é ser humano.

Não que eu possa dizer como deve ou não deve ser feito, que se deve ou não deve idealizar; ou eu estaria realizando o mesmo processo idealizador estúpido, da busca da ideia perfeita. Só sinto que seria muito mais agradável experimentar as pessoas, agradecendo pela xícara, de chá ou café, que elas possam ter para nos oferecer.

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