sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sobre os benefícios do amor.

No último post eu falei da insatisfação dos nossos. Um pouco sobre isso fala a famosa história da mitologia grega, o amor de Eros e Psique.

Um rei tinha três lindas filhas cuja beleza despertava a ambição de muitos homens e a inveja de muitas mulheres. A mais bela de suas filhas, chamada Psique, estranhamente, não conseguira desposar. Na verdade, sua beleza de tão pura e graciosa havia despertado a inveja não apenas das mortais, mas da própria Afrodite, a deusa da beleza e do amor.

Afrodite, transtornada, enviou seu filho Eros, o deus do amor, enfeitiçá-la para que se casasse com o homem mais feio do mundo. Eros, obediente, desceu do Olimpo para cumprir sua tarefa. Ao ver Psique com os próprios olhos, contudo, Eros, a personificação do amor, ficou profundamente encantado por sua beleza e por ela se apaixonou.

O pai de Psique, estranhando a solteirice de sua filha, decidiu consultar um oráculo, que lhe disse que deveria levar Psique para o alto de uma montanha para que desposasse um terrível monstro.

Penalizado, porém resignado, o rei assim o fez.

No alto da montanha, contudo, Psique não encontrou monstro algum. Ela foi levada pela força gentil dos ventos até o castelo mais belo que ela jamais vira. Durante o dia inteiro ela foi ajudava por servos invisíveis, que lhe disseram que jamais deveria tentar descobrir a identidade do seu esposo, ou o perderia.

À noite, Psique foi tomada pelos braços de um amante invisível que a amou da forma mais terna que nenhum deus ou mortal amou uma mulher no mundo.

Essa rotina se repetiu e, tão logo quanto a sua beleza despertou a afeição de Eros, Psique se apaixonou por seu amante invisível.

Mas um dia todos acabamos querendo mais do que temos. Psique começou a se sentir desesperadamente só no castelo que, agora, ela via como prisão. Insistiu para seu marido invisível que pudesse ver suas irmãs. Eros se apressou em negar, prevendo as conseqüências desse encontro; mas, apaixonado, acabou por ceder.

Voltando do encontro de suas – agora invejosas – irmãs, Psique trouxe consigo uma incurável curiosidade sobre a face do seu amante; os mexericos venenosos de suas irmãs voltaram a fazê-la pensar nele como um monstro desprezível.

À noite, enquanto seu amado dormia, Psique se aproximou dele com um candelabro. Para sua surpresa, a chama iluminou o rosto mais belo que ela já vira na vida. Ali estava seu amante invisível, Eros, um deus, a própria encarnação do amor.

Feliz e exaltada, ainda mais apaixonada, Psique se distraiu e deixou cair algumas gotas do líquido fervente do candelabro, que queimou na pele divina de seu amante. Eros despertou assustado, para em seguida ficar enfurecido com a desconfiança de Psique. Ordenou que ela jamais o procurasse novamente.

Psique despertou no castelo dos seus pais, sem Eros, sem amor. Então a alma (Psique) e o amor (Eros), outrora juntos e felizes, agora vagavam tristes e solitários pelo mundo.

Se a história acabasse aqui seria uma continuação da minha última postagem. Mas hoje minha proposta é outra. A alma e o amor, meus amigos, não conseguiram viver separados, na mitologia grega. Psique procurou Afrodite, que lhe designou tarefas mortais para que pudesse reaver o seu amado. Na última delas, Psique quase falhou, mas foi salva por Eros.

O amor e a alma passaram a viver lado a lado no Olimpo, desde então.

Um história bonita, que traz consigo a idéia de que o amor e a alma são incapazes de viver separados. Mas essa não é uma corrente muito difundida por esses dias, pelo que eu vejo. Tantos são aqueles que acreditam que as pessoas, até eles mesmos, são incapazes de amar.

É bem verdade que o ser humano é, por natureza, individualista. Isso não é uma crítica, é um fato. Como se fosse um instinto de auto-proteção, um escudo contra as adversidades do mundo lá fora. E esse traço marcante também se reproduz nas suas relações... O amor, a amizade, todas são relações profundamente individualistas. Há sempre um lobby implícito, eu cuido de você e você me faz bem, eu amo você e você me dá carinho, etc.

Essa peculiaridade, no entanto, não torna os relacionamentos humanos menos bonitos ou impossíveis. Algo muito mais belo e muito maior se forma sobre essa característica: um sentimento não é apenas um elo entre duas pessoas. Quando alimentamos os sentimentos, seja qual for, eles adquirem uma identidade própria, quase personificada, muito maior que os dois amantes, os dois amigos. Ele ganha suas próprias dimensões, seu próprio corpo, seus próprios gostos e travessuras. E, quando os amantes ou amigos não o alimentam como deveriam, ele pode, como uma pessoa, morrer.

Por isso, eu não digo que o individualismo é uma barreira para o amor, tornando-o impossível ou improvável. Ao contrário, o individualismo é uma característica do amor, dentro das limitações da humanidade.

A descrença no amor se baseia na busca de um amor correto, um amor que trará a felicidade enquanto todos os demais estariam fadados ao fracasso. Minha bandeira é diametralmente oposta, pois eu digo: Amem.

Amem da forma que vocês souberem/quiserem/puderem amar: amem timidamente, com bilhetinhos ou cartas anônimas; amem tresloucadamente, com serenatas e declarações de amor eterno; amem à moda antiga, com flores e bonbons; amem ardentemente, em cima de uma cama; amem platonicamente. Amem sofridamente como nos amores românticos de outrora ou abracem o amor amigo, da comédia romântica dos dias chuvosos. Amem, qualquer que seja a cor, o credo desse amor. Amem o amor colorido, amem o amor preto e branco. Amem vários, como no amor livre, ou amem um só, amem por um dia ou amem para toda a vida. O importante é que amem.

Afinal, se você souber amar verdadeiramente alguém, como Eros amou Psique, vai poder sentir a dor do marido que perdeu sua esposa nos escombros do Haiti e vai poder amá-lo também. Se você puder amar seus pais, vai sentir o vazio no peito dos órfãos da AIDS na África e vai poder amá-los também. Se você amar um filho, vai poder entender o desespero da mãe que perdeu seu filho para o tráfico e vai poder amá-la também.

O mundo precisa de um pouco de amor, meus caros, seja qual for o que vocês tiverem para oferecer.

2 comentários:

  1. É ISSO MESMO LINDAA, O MAIOR SENTIMENTO DO MUNDO É O AMOR!
    O MUNDO PRECISA DELE!
    QUE LINDO SEU POST, LINDOO!
    BEIJOS
    CAROLINA SOARES
    SALVADOR/Ba

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  2. Esse foi um dos textos mais lindo que ja li. Não, não é exagero. Sendo individualista que sou (que somos), a relação entre mitologia pra começar a "explicação" e a continuidade falando sobre o amor, só poderia me cativar.
    Amor é o sentimento mais completo. Na verdade, em alguns casos o mais incompleto. Porém, o mais cheio, quase transbordando. No amor há a infinitude.

    Teu texto é belo de várias formas. Ele é cheio e transborda, assim como o sentimento que vos fala. Parabéns, Marcelle. Tu escreves muito bem!

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