terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Metapostagem

Admitemos: Não há nada mais criativo que os dois ou três segundos que sucedem uma boa risada.

Hoje mesmo estava lendo um livro e dei uma boa gargalhada. Sozinha no quarto, como uma louca. Que talento é escrever comédias, não é? E não entenda aqui por comediante qualquer um que diga asneiras e leve a si próprio ao ridículo, mas invejo − e daquela melhor das invejas, se é que isso existe − aquele que não cansa o público com gargalhadas sucessivas, nem o entedia com tantos risinhos inteligentes de canto de boca. O bom comediante é esperto o suficiente para conduzir risos altos, sorrisos e o próprio silêncio como notas musicais. Uma boa comédia é como música.

Meus autores favoritos me presenteiam com boas risadas. Teatrais, inteligentes, sexistas, irônicas, avariadas... As mais diversas. Como fui eu acabar escrevendo algo tão diferente do que eu leio?

É esquisito porque quando a gente coloca milho na panela, queridos leitores, a gente espera que saia pipoca ou, na pior das hipóteses, milho queimado.

Não sou adepta da falsa modéstia, então não vou dizer que repudio tudo que já escrevi. Até gosto, às vezes. Acho que sou minha maior fã. Mas tudo acaba sendo tão diferente de tudo: eu consigo escrever draminhas, uma reflexãozinha ou outra, um conto legal ou outro, às vezes sai até ironia... Mas eu nunca escrevo nada que se possa chamar de comédia, que eu tanto leio.

Por quê? Se eu coloco tanto milho na minha cabecinha porque não sai pipoca?

Bem, pra essa pergunta eu não tenho uma resposta. Mas eu tenho uma pista: eu coloco bastante milho, mas eu não coloco apenas milho. Primeiro porque, por mais que eu adore comédias, eu também leio uma porção generosa de dramas, duas xícaras e meia de romances, uma pitada de filosofia. Fora isso, e por que não?, entra também meio quilo de seriados que eu perco hooras assistindo.

Não para por ai: Tudo o que eu vivo define o que eu escrevo, minha família, meus relacionamentos, meus amigos, meu papagaio, a faculdade que eu faço, onde eu moro, tudo!

O que nós escrevemos não é um reflexo imediato daquele estilo que nós lemos, como não é uma versão daquele nosso autor favorito, etc. Escrever não deve ser algo tão academicista. Essas influências também entram no bolo de ingredientes do que nós realmente somos. Mas, além disso, escrever também é colocar no papel um pouquinho das lágrimas que a gente já derramou, dos sorrisos que a gente já deu, dos beijos que a gente já roubou, das broncas que a gente já levou...

E o que as comédias, que eu tanto leio e adoro, deixaram para mim, afinal?

Ao fim e ao cabo, amados leitores, os milhos sempre deixam dentro da panela alguma coisa. Em mim, deixaram a impressão de que, afinal, por mais desgraçada que seja a vida, se você pode rir disso, então você pode fazer qualquer coisa. Quem sabe até mesmo mudar isso, o que quer que isso seja.

O fato é que, por mais que eu não escreva comédias, não quero que minhas últimas páginas carreguem consigo o peso da desilusão e do ponto final (Da mesma forma, eu não quero que essa postagem traga consigo a decisão de que o que eu escrevo não presta para nada. Não queremos que vocês, leitores, cliquem no X’zinho no canto superior direito da tela, certo?).

Eu não digo que vou começar a escrever comédias, não espere por gargalhadas nos próximos posts; mas quem sabe eu possa escrever algo que me satisfaça, se puder rir de mim mesma?

Um comentário:

  1. Bem, eu ri na parte dos milhos que não viram pipocas na sua cabecinha, hehehehe...

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